sexta-feira, 10 de julho de 2020

ESTOU INFINITO FEITO NUM 8

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Acidente gerador de palavras mudas

eu e a PoEsia tropeÇámos uma na outrA e não sei qual de nós ficou pior...

sábado, 9 de maio de 2020

Máscaras

a vida são todos os instantes…
em que não somos

terça-feira, 28 de abril de 2020

É fodido...

É fodido...
é fodido quando a pessoa que amas acha que não vales a pena
que não vale a pena lutar por ti
é fodido quando uns discutem milhões e tu contas tostões e às vezes já nem tostões tens para contar
é fodido quando a mãe que querias ter nem te faz um telefonema
e tem mais o que fazer
é fodido quando te levantas e afinal hoje também não tens do que sorrir e nem te lembras da ultima vez que o fizeste
é fodido virem aí as eleições e saberes que nenhum vale o teu voto e que se voltares a votar é sem esperança
é fodido pensar que sempre há quem se safe bem com uma boa intrujice e tu transbordas de gestos honesto sem um tostão no bolso
é fodido é fodido é
mas o que é mesmo fodido
o que é realmente fodido
é não teres a quem amar pois simplesmente metralharam toda a tua aldeia toda a tua esperança
é não teres um grão para encher o papo porque ao teu redor existe um deserto e pessoas que não te dão pão
é não teres mãe nem pai porque vives na Síria e já rebentaram com eles
é teres um sorriso permanente na cara desenhado por uma faca que mais uma vez te marcou quando o teu companheiro o desejou
é viveres numa ditadura em que só a palavra voto te pode matar te pode estripar te pode fazer desaparecer
é quando vives no meio de intrujas e nunca aprendeste nada de honesto a não ser jurar que te vingarás de todos eles
isso sim é que é fodido
fodido por fodido
olha que se foda!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Perdi os meus poemas



Perdi os meus poemas
Não os consigo encontrar
Procurei por todo o lado
em todos os cantos
e recantos
Onde se procura um poema?
Por onde se esconde um poema?
Alguém o viu?
voei entre os pássaros
corri entre os cavalos
saltei entre os coelhos
mas não encontrei um poema
procurei-os debaixo das pedras
mergulhei no fundo do mar
entre as rochas
sobre as ondas
onde estão os meus poemas?
Como buscá-los?
Onde se esconde a poesia?
Talvez entre a maresia
Talvez atrás duma orelha
Talvez debaixo duma telha
Ofereço uma recompensa
A quem vir os meus poemas

Um princípio a partir do fim



O fim de um ovo
Uma aranha costureira
Um pássaro novo

O fim de um casulo
Uma borbaleta
Com pintinha preta

O fim de uma barriga
Um bebé chorão
louro como espiga

O fim de uma supernova
Mais um peixe no mar
E uma estrela nova

O fim de uma semente
Uma árvore forte
De ver menino contente

O fim de um vulcão
Uma montanha no mar
Uma ilha com furacão

O fim duma estrada
É casa alentejana
Com milho à entrada

O fim de um rio
É mar salgado
Com muito safio

O fim de um Epá
É sorriso e – ena pá!
Tem pastilha azul

O fim de uma noite
Uma manhã fria
O uivo de um coiote

O fim de um sonho
Rir ao acordar
E saltar do ninho

O fim de um dia
Uma noite com lua
Uma caminhada tardia

O fim de um fogo
Uma brasa de mandarina
O soninho de uma menina
O fim

Nunca saberei



Nunca saberei em que pensas
Sentada nessa cadeira
Nunca saberei o que levas
Para junto da tua lareira

Dispo-me à tua frente
Uma nudez de palavras
A minha mente demente
Uma terra que lavras

Sem te poder abraçar
Como abraço a uma mãe
Sem poder atravessar
O espaço que nos retêm

Queria poder perguntar
Se tens um gato ao teu colo?
Queria deixar de imaginar
Que te encontro noutro pólo

O que lês nos meus sonhos?
O que prevês nos meus desejos?
Eu queria ter dois ninhos
Sem me picar nos tojos

Deitada numa cama
A dizer o que não penso
Espero pela tua calma
Que se agita como um lenço

Anseio pelo dia
Em que deixe de te ver
Sabendo que podia
Abandonar-te sem doer

Meu poeta



Apaixonei-me por ti poeta
Só te conheço o nome
A tua poesia penetra-me como uma seta
O meu imaginário torna-se disforme

Quem disse que preciso conhecer
Aquele por quem o meu desejo chama
Acaso o rio tem de conhecer
O mar onde se derrama?

A poesia é uma noite
Em que sonho contigo, meu poeta
A lua espera que me deite
E as estrelas saem em festa

Quando estou junto do mar
Converso e chamo por ti
Às ondas ninguém as consegue domar
A mim só o desejo de ti

Imagino o nosso encontro
Uma conversa agitada
Um mundo terno em que entro
Um sorriso, uma partida

Queria contar-te um segredo
Que partilhei com a lua
Abraçar-te sem medo
Dizer-te que não sou tua

Queria mostrar-te os meus poemas
Dar-te um beijo envolto em desejo
Versejar, discutir todos os temas
Levar-te a passear no Tejo

Enrolar-me no teu colo como um gato
Lamber-te as feridas
Acompanhar-te no salto
Falar-te de páginas lidas

Apneia




Corro para ti
Como corria antes
para as ondas do mar
Mergulhando no teu corpo
Em apneia
Como quem explora
O fundo do oceano

Ausência




Uma ilha
O sol do entardecer
E a tua ausência
Fazem-me desejar
O futuro

Mãos



Caminhar na areia
E senti-la quente
Como antes sentia
As tuas mãos
no meu corpo

Imagem




O sol cega-me
E a tua falta emudece-me
Aqui sozinha
Em frente ao mar
Sinto-te proximamente longe
As saudades são salpicos de sal
Fecho os olhos e vejo
A marca do sol na minha retina
Assim desejava que permanecesse
A tua imagem em mim

Cheiro




Queria embebedar-me
Como o teu cheiro
E caminhar aos esses
Num beco escuro

Todos os dias



Fico todos os dias impaciente
Esperando que me fales
Me digas que sentes a falta
da minha voz
Todos os dias te escrevo
Todos os dias te desejo
Imagino tocar-te,
Ao de leve na pele
E senti-la arrepiar-se
Fechar os teus olhos
com um beijo
acordar-te
com um sopro
no cabelo