sábado, 10 de janeiro de 2015

Estou só?


para a maria pimpirim



Se neste final de dia
eu pudesse ter esperança...
Não sei...
Alguma esperança
em alguma coisa...

Às vezes tenho esperança...
Esperança que a dor não me visite!
Às vezes penso em ti
e a esperança aumenta
e a dor adormece num abraço nunca recebido...

Tu que me acompanhas
mesmo quando não me apercebo da tua presença.

Tu que és mãe e curandeira
Tu que estás mesmo quando não estás

Se eu pudesse!
Se eu pudesse tirar-te a dor com um sorriso
um sorriso aberto sem porquê...

Quanto de ti trago dentro de mim?
Não sei…

Às vezes vejo-te naquela palavra que não sai
suspensa por um fio de timidez.
Às vezes pressinto-te no olhar de curiosidade
com que olho para dentro de uma casa abandonada.
Às vezes confundo-me com o teu olhar
muitas vezes descanso nele
e sinto-me menos só...




À noite...

À noite
procuro a lua
mas ela esconde-se
timidamente
entre uma pincelada de nuvens

espero impacientemente
que a mãe-lua se mostre
e que a sua luz me invada
eu filha da prata e do mar
sozinha entre as minhas irmãs
pequenas estrelas perdidas da sua constelação

os gatos fazem-me companhia
lambem-me as feridas
aquecem-me os pés gelados

cubro-me com um manto de estrelas-anãs

a coruja canta num piar triste
voa em silêncio sobre mim

a erva molhada debaixo da planta dos pés

um pirilampo desperta-me o olhar

o sonho há muito que não me visita
mas o conforto da noite
adoça-me o sentir

o meu coração bate ao ritmo da chuva

há sete noites que te espero

mas quem és tu?

tu que me ouvias
com pequenos gestos me adormecias
com um olhar me soltavas o sorriso

os teus passos já não me acompanham
e no entanto
são a eles que sigo
seguindo entre silvas
que me marcam as pernas

a noite engoliu-te
amor!

aguardo que se lembre de mim
que me trague de uma vez!
que o musgo me cubra
e eu me confunda com as pedras


AV - Abril de 2006

Muito Chá



a Bela Luísa gosta
que olhem para ela

ela quer parecer bela
uma flor
um broche
ao peito

gosta de estar no palco
da moda

que bom que é
irmos todos brincar
ao faz de conta

faz de conta
que agora somos
muito modernos...

como os jovens

vamos ao lixo
com luvas de cetim
e trazemos aquelas coisas
que ninguém quer
para casa...

dão jeito para receber
os amigos
e os ambicionados amigos
e quem a quiser adorar

é uma boneca
de porcelana
parte-se
facilmente

mas...
desde que a olhem
a partir-se
e que a filmem
para a eternidade

(com aplausos
e silêncios
pelo meio)

não faz mal
ser oca

porque mais vale
parecer
do que ser
nestas coisas

e depois...
quando o palco
for outro

maior,
mais concorrido...

basta um estalar
de dedos
com a mão
bem levantada

um som bem moderno

e alguém
que baixando
o nível
das costas,

se verga
para voltar
a colocar
esses trastes no lixo

porque...
para baixar
o nível
de outra forma
só mesmo ela




AV - 2012

Canção do Coração e da Esperança


" (...)
- A Esperança é Feliz?
- O Coração
da Esperança
sobe, sobe pelo ar.
É feliz
a Criança,
a cantarolar...
(piu piu piu)
Mas...
o Vento
a soprar,
leva a Esperança
pelo Mar,
fica então...
o Coração
a lacrimejar...(..)"
   
 - Rima e Conteúdo*


*Nota de Tradutor: A "Canção do Coração e da Esperança" é um poema de origens muito antigas que com o tempo e, dependendo da região onde é cantado, tem vindo a ser reescrito várias vezes e apresenta diversas versões. Esta é uma das versões menos populares devido à pobreza da Rima e do Conteúdo. A Rima e o Conteúdo também por vezes davam o titulo alternativo a este poema de: "Saga de um Amor Difícil". Amor Difícil é descrito em textos muito antigos como uma figura lendária que indo contra Ventos e Marés salvou o Coração e a Esperança de morrerem estrafegados. 



AV - Novembro 2013